Chamada Vol. 20 / N° 1
InMediaciones de la Comunicación
Volume 20 / Nº 1 (janeiro a junho de 2025)
Informamos que está aberta a convocatória para publicar artigos no Volume 20 / Nº 1 (janeiro-junho de 2025) de InMediaciones de la Comunicación, revista acadêmica publicada desde 1998 pela Universidad ORT Uruguay.
A finalidade centra-se na publicação de artigos originais e na divulgação de entrevistas, ensaios e resultados de pesquisas que decorrem no domínio da comunicação e disciplinas afins, com especial atenção aos processos de midiatização social e ao estudo dos fenómenos mediáticos contemporâneos. O conteúdo é destinado a pesquisadores, professores, estudantes universitários de graduação e pós-graduação e interessados em todas as áreas da comunicação. Antes de sua publicação, os manuscritos são revisados, num primeiro momento, pelos Editores Associados e pelo Comitê Acadêmico, formado por especialistas de diferentes países, o Editor Convidado de cada número e depois são avaliados pelo sistema duplo-cego com a intervenção de árbitros externos.
A revista segue uma política de acesso aberto, recebe contribuições escritas em espanhol, inglês e português e o/a autor/a não paga nenhum custo pelo processamento ou publicação dos manuscritos. InMediaciones de la Comunicación é publicada em papel e em formato digital com o objetivo de promover a publicação aberta de manuscritos que são o resultado do trabalho realizado por pesquisadores e dar impulso à abordagem das mais diversas questões e problemas que atravessam o campo da comunicação. Ao longo dos anos, tem contado com a contribuição de pesquisadores e referentes acadêmicos de reconhecida trajetória, que proporcionam seu olhar sobre os debates provocados pela permanente renovação dos fenômenos comunicacionais na América Hispânica e no mundo.
Temática do Volume 20 / Nº 1 (janeiro-junho de 2025)
VINTE ANOS DEPOIS
Mediatizações e mutações ecológicas do público: plataformas digitais como mercados e como espaços públicos
FUNDAMENTOS DA CHAMADA
Há cerca de duas décadas, as possibilidades abertas pela interligação de redes informáticas, cada vez mais onipresentes, e uma série de desenvolvimentos tecnológicos ao nível do software, começaram a configurar uma das características salientes das sociedades atuais: a vida em plataformas. Aos poucos, de forma mais ou menos sub-reptícia, por meio de dispositivos interligados, começamos a construir e gerenciar nossas relações sociais.
Originalmente concebidas como serviços de redes sociais (e, portanto, superfícies a partir das quais e nas quais fazer-rede online de forma descentralizada, sob o comando dos usuários), o crescimento demográfico exponencial e a massificação dos telefones celulares inteligentes abriram as portas aos meios de comunicação social e à economia do público em geral no mesmo lugar que, originalmente, foi imaginado como um espaço de trocas relativamente horizontais. Vinte anos depois, o panorama, sem ser homogéneo, é qualitativa e quantitativamente diferente: daí a dataficação, a mercantilização, os consumos e a sociabilidade organizados por algoritmos, a centralização do controle sobre os fluxos de informação, e toda uma economia baseada na criação de conteúdo orientado pela captação de atenção.
Dizemos vinte anos porque os números redondos sempre funcionam como uma boa desculpa para o
balanço. E embora as noções de social-networks e social media, bem como os aplicativos que incorporam essas funções, são emergentes da segunda metade da década de 1990 (Aicher et al., 2021), podemos considerar como marco a criação do Facebook em 2004, e usá-lo como exemplo paradigmático para refletir sobre a transformação das plataformas e, fundamentalmente, sobre como impactaram a construção do espaço público vivido na atualidade. Neste período, a empresa criada por Mark Zuckerberg e seus colaboradores evoluiu de um site que promovia a comunicação entre estudantes universitários americanos para uma plataforma complexa, estabelecendo-se como a rede social mais popular do mundo. E assim como o Facebook, as demais plataformas também passaram por mudanças intensas; algumas se fundiram, outras desapareceram e muitas surgiram, como parte de um universo em constante mutação.
Muitos teóricos refletiram sobre as transformações ocorridas no contexto das plataformas e daquelas oferecidas pela Internet como um todo. A primeira década foi caracterizada por estudos sobre inteligência coletiva (Lévy, 2003) e cultura participativa (Jenkins, 2009; Shirky, 2011). Apesar das distinções conceituais, um grupo de autores celebrava o que se vislumbrava naquela época nas redes sociais: a possibilidade de interligar os participantes e abranger toda uma cultura colaborativa que estava surgindo. Assim, estas novas possibilidades foram acolhidas como processos comunicativos descentralizadores e como um novo horizonte para a democracia.
Algum tempo depois, porém, aproximadamente a partir de 2010 (momento que coincide, e não por acaso, com a proliferação do termo social media (Aichner et al, 2021), a grande maioria dos investigadores viu-se na necessidade de refletir sobre o horizonte negativo que surgia a partir de características que foram incorporadas a essas redes, principalmente pela influência do capital proveniente de novos modelos de negócios que se consolidaram através delas (Kapoor et al., 2018) e que estruturaram um capitalismo de vigilância (Zuboff, 2019). Assim, os estudos foram redirecionados para a desinformação, a polarização e o discurso de ódio, fenómenos que mostraram o impacto da plataformização na sociedade (van Dijck, Poell & de Waal, 2018). O “escândalo” Cambridge Analytica é um caso exemplar neste contexto, dado que a denúncia sobre o uso político dos dados dos usuários do Facebook apontou o impacto das plataformas na definição dos rumos democráticos.
Entre a função-rede (um sistema latente e inativo) e a função-meio social (um sistema hiperativo de colocação em circulação de bens e discursos, com a consequente revitalização do broadcasting), as plataformas digitais transformaram-se em mercados e espaços públicos. Poderíamos dizer que nas plataformas existimos como sujeitos, e entre as formas de subjetividade predominantes que aí se configuram, há duas que são interessantes de investigar, particularmente neste número de InMediaciones de la Comunicación: a dos cidadãos (habitantes da cidade, ligados ao seu destino comunitário) e a dos consumidores (habitantes do mercado, vendedores, compradores e mercadorias ao mesmo tempo). Tudo no quadro de um ecossistema midiático baseado em plataformas que não deixa de conter paradoxos: uma economia política concentrada e hierárquica, na qual ainda é possível construir e partilhar horizontalmente; um ecossistema dominado pelas corporações, mas no qual os bens públicos são discutidos e configurados; uma estrutura centralizada de colheita de dados, com uma aparente capacidade de controle subjetivo – as plataformas sabem mais sobre nós do que nós mesmos – que, ainda assim, está repleta de utilizações imprevistas.
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A proposta desta chamada de InMediaciones de la Comunicación é abrir um espaço de reflexão sobre a vida em plataformas a partir de duas ideias-força centrais: espaço público e mercado.
Trata-se então de dar centralidade aos estudos voltados para as transformações do público, ou seja, aquela área da vida social em que instituições e indivíduos coabitam e se tornam mutuamente visíveis. Como essa ordem é principalmente um “subproduto de arranjos tecnológicos” (Calhoun, 2013), o lugar da mídia foi e continua sendo uma questão central. Contudo, o avanço da reflexão teórica e aplicada mostra que o complexo tecnológico institucional dos meios de comunicação de massa também foi submetido às transformações das novas midiatizações caracterizadas, nos últimos vinte anos, pela implantação da Internet e, principalmente, pela expansão das plataformas.
As midiatizações são inerentes ao espaço público moderno e, pelo menos desde o século XVIII, têm participado na transformação da estruturação do público – ou, o que é igual, das relações dos sistemas institucionais: a política e o mercado, com seus ambientes. As plataformas funcionam como supraespaços midiáticos nos quais a vida coletiva se desenrola. Por esta razão, caracterizamos esta abordagem como ecológica. Ao nível dos funcionamentos institucionais – que é o nível da política – a mediatização introduz o problema das relações entre o sistema e seus ambientes. Daí, precisamente, a ecologia geral é a reflexão sobre a diferença sistema/ambiente e suas transformações: o ambiente, nesta perspectiva, é uma referência multifacetada e flexível que muda de acordo com a forma como é observado e com a perspectiva do observador (Espósito, 2017).
Podemos dizer que estamos perante um fenómeno de ecologia duplicada: as plataformas são ambientes (Scolari, 2015) ou ecossistemas (Fernández, 2021) nos quais se desenvolve a vida social, mas também levantam a questão de como olhar para o exterior, onde “o social” também se desdobra e vive. Desta forma, estamos perante um problema cognitivo e epistemológico, que se expressa tanto a nível individual quanto a nível institucional e organizacional: Como é que os indivíduos, grupos, instituições, empresas conhecem e como produzem conhecimento sobre os seus mundos de referência? Nas plataformas, as instituições podem observar como os sistemas sócio-individuais (Verón, 2013) observam a sociedade, um fragmento da realidade, outros sistemas sócio-individuais – e até a si mesmos e como são observados.
Este jogo de observações cruzadas e deslocamentos metonímicos permanentes entre o interior e o exterior da vida online também se aplica à dimensão comercial do social. Quando pensada em relação à sociedade de plataformas, a noção de mercado não se refere apenas à imagem de um capitalismo de plataformas (Srnicek, 2018) como uma macro descrição da economia baseada no extrativismo de dados e no “conhecimento” derivado, mas também a um ponto de encontro em que se desdobram imaginários, fantasias, desejos, necessidades: ou seja, toda uma sociologia na superfície – dado que já estamos classificados, agrupados, localizados em comunidades de gostos, interesses e possibilidades – além de todo um universo de discurso cuja configuração tem uma forte dimensão semiótica – ou seja, para além do ethos-influenciador, o panorama das plataformas está saturado por variações do discurso publicitário de grandes, médios e pequenos comerciantes e empreendedores. Essa vida social não corporativa também merece ser investigada, analisada e compreendida.
Neste sentido, e conforme expresso nos eixos da convocatória que se apresentam a seguir, neste número de InMediaciones de la Comunicación será dada preferência à submissão de artigos que reflitam sobre os processos acima descritos e que consigam articular suas abordagens de análise com alguns dos eixos propostos, com o contexto das transformações ocorridas nos últimos vinte anos.
EIXOS TEMÁTICOS GERAIS
- Redes ou sistemas? Abordagens conceituais divergentes para o problema das relações entre o interior e o exterior da vida nas plataformas.
- Como as plataformas “leem” seus públicos? Estudos sobre as relações entre organizações, agentes e instituições midiáticas e seus públicos.
- Infraestruturas da vida pública: espacialidade e sociabilidade nas plataformas.
Eixo específico: Plataformas como mercados
- Plataformas como mercados: infraestruturas e economia política das redes.
- Metamorfose do discurso publicitário: gêneros, estilos e estratégias enunciativas da publicidade nas plataformas.
- Ethos e função do influenciador: dos bens funcionais aos bens simbólicos, entre o valor do indivíduo e a construção das audiências.
- Estudo de caso sobre usos comerciais de pequena escala nas plataformas.
Eixo específico: Plataformas como espaços públicos
- Esferas públicas e públicos em rede: formas contemporâneas de fazer coletivos. Estudos sobre ativismos e mobilizações.
- Plataformas e política: campanhas, desinformação, fake-news.
- O exercício profissional do jornalismo e das plataformas digitais.
- Redes sociais: o efeito da escala nos laços interpessoais.
EDITORES CONVIDADOS
Mariano Fernández. Pós-doutorado em Sociologia, Université de Lausanne (Suíça). Doutor em Ciências Sociais pela Universidad Nacional de La Plata (Argentina). Pesquisador Assistente, Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET-Argentina). Professor de graduação e pós-graduação, Universidad Nacional de La Plata e Universidad Nacional de las Artes de Buenos Aires (Argentina). Atua em três linhas de pesquisa: transformações ecológicas do espaço público, processos de midiatização e estudo dos discursos políticos. Publicou os livros – junto com Matías López – Lo público en el unbral. Los espacios y los tiempos, los territorios y los medios (2014, Universidad Nacional de La Plata) e – junto com Gastón Cingolani – Cristina, un espectáculo político. Cuerpos, grupos y relatos en la última presidencia televisiva (2019, Prometeo). E-mail: marianofc81@gmail.com
Aline Roes Dalmolin. Doutor e Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Brasil). Estudos de Pós-doutorado, Universidad Nacional de Rosario (Argentina) e Universidade Federal de Santa Maria (Brasil). Professor de graduação e pós-graduação da Universidade Federal de Santa Maria (Brasil). Foi professora visitante, Södertörn University (Suécia), bolsista do projeto CAPES-STINT (Brasil). Suas linhas de pesquisa abrangem redes sociais, mídia e religião, além de se interessar por jornalismo, discurso midiático e biopolítica. Atualmente dirige o projeto de pesquisa intitulado: “Circulação Midiática e Estratégias de Comunicação”, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Brasil). E-mail: aline.dalmolin@ufsm.br
DATA FINAL PARA ENVIAR SUBMISSÕES: 30 de septembro de 2024
DATA DA PUBLICAÇÃO DO VOLUME: publicação contínua - janeiro-junho de 2025
Site da revista – registo e submissão dos artigos através da plataforma:
https://revistas.ort.edu.uy/inmediaciones-de-la-comunicacion
Características que os artigos submetidos devem apresentar:
https://revistas.ort.edu.uy/inmediaciones-de-la-comunicacion/about/submissions#authorGuidelines
E-mails de contato da revista:
cossia@ort.edu.uy / inmediaciones@ort.edu.uy / lcossia@yahoo.com.ar /
Comitê Acadêmico
InMediaciones de la Comunicación
Universidad ORT Uruguay
BIBLIOGRAFIA CITADA
Aichner, T., Grünfelder, M., M. Oswin & Jegeni, D. (2021). Twenty-Five Years of Social Media: A Review of Social Media Applications and Definitions from 1994 to 2019. Cyberpsychology, Beheavior and Social Networking, 24(4), pp. 215-222. DOI: https://doi.org/10.1089/cyber.2020.0134
Calhoun, C. (2013). The problematic Public: revisiting Dewey, Arendt and Habermas. The Tanner Lectures on Human Values. Ann Arbor: University of Michigan.
Espósito, E. (2017). An ecology of differences. Communication, the Web and the question of the borders. In Hörl, E. & Burton, J. (Ed.), General Ecology. The new ecological paradigm (pp. 283-301). London: Bloomsbury Academics.
Fernández, J. L. (2021). Vidas mediáticas. Entre lo masivo y lo individual. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: La Crujía.
Jenkins, H. (2009). Cultura da convergência. São Paulo: Aleph.
Kapoor, K., Tamilmani, K., Rana, N., Patil, P. P., Dwivedi, Y. K. & Nerur, S. (2018). Advances in Social Media Research: Past, Present and Future. Information Systems Frontiers, 20(4), pp 531-558. DOI: https://doi.org/ :10.1007/s10796-017-9810-y
Lévy, P. (2003). A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Loyola.
Scolari, C. (2015). Ecología de los medios. Entornos, evoluciones e interpretaciones. Barcelona: Gedisa.
Shirky, C. (2011). A cultura da participação: criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro: Zahar.
Srnicek, Nick (2018). Capitalismo de plataformas. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Caja Negra.
van Dijck, J., Poell, T. & de Waal, M. (2018). The Platform Society. Public values in a connective world. Oxford: Oxford University Press.
Verón, E. (2013). La semiosis social 2. Ideas, momentos, interpretantes. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Paidós.
Zuboff, S. (2019). The age of surveillance capitalism: the fight for a human future at the new frontier of power. New York: Public Affairs.